Saúde no trabalho
- Júlia Lantmann
- 23 de jan. de 2019
- 5 min de leitura
Saúde no trabalho
Oi oi, me atrasei pra postar, não é mesmo?
Apesar de estar de férias me organizei bem mal, não sigam meu exemplo... Por falar em férias, esse é um dos pontos chaves do assunto de hoje. De acordo com a Ana Merzel, coordenadora da psicologia do Albert Einstein:
"O respeito ao horário do trabalho é fundamental. Assim como o respeito ao período de férias. O período de desconexão com o trabalho e com as responsabilidades é essencial para a saúde mental e deve ser mantido sempre.".
Essa mensagem é especial para aqueles amiguinhos que vêm me dizer que faz x anos que não vêem férias. É importante, também, viu? Inclusive para produzir melhor no trabalho de vocês. De acordo com Reis, Fernandes e Gomes o ambiente atual de trabalho exige deveras o uso da memória imediata, assim como a realização de diversas pequenas decisões durante o dia a dia, o que pode favorecer a fadiga. Desta forma, torna-se possível errar, esquecer ou não encontrar soluções para os problemas gerando frustração, medo de fracassar e ansiedade no individuo.
Esses mesmos autores (Reis, Fernandes e Gomes) também mencionam a autoaceleação. E o que seria isso? É um mecanismo que nos leva a acelerar, como o nome já diz, o nosso próprio ritmo de produzir e trabalhar. Eventualmente, aceleramos tanto, que se torna difícil reduzi-lo. Um exemplo da autoaceleração seria a dificuldade em tirar férias. Pode levar também, em níveis bem altos, ao workaholism.
A autocobrança em excesso pode ser prejudicial à saúde, seres humaninhos, cuidado. Até porque, segundo Santos e Cardoso, nosso corpinho possui um limite para a adaptabilidade. Ou seja, nem ele aguenta trabalhar o tempo todo e estar exposto a estresses contínuos por tanto tempo. Então, foco em aproveitar as férias enquanto dá e deixa pra pensar nos problemas do trabalho na volta.
É possível adoecer por causa do trabalho?
A resposta é sim.
Podemos adoecer em decorrência do nosso trabalho e de seu ambiente, mesmo que façamos o que amamos. Isto é devido a diversos fatores, os quais tentarei abordar brevemente neste post. Focarei no âmbito psicológico, mas isto não exclui os problemas físicos.
Inclusive, de acordo com Glina et al, o decreto 3.048/99 de 06 de maio apresenta uma lista de doenças mentais e do comportamento relacionadas com o trabalho. Nela estão contempladas 12 categorias diagnósticas de transtornos mentais. Contei com o auxílio de uma grande amiga e advogada para entender e verificar a veracidade dos dados referentes ao decreto. Convenhamos que precisa ser treinado para encontrar algo ali...
No final do post deixarei a lista, dividida em duas imagens, para quem quiser conferir.
Esse é um assunto importante nos dias atuais devido a grande quantidade de tempo que dispendemos no trabalho e de nos deslocarmos indo e vindo do mesmo. Oras, muitas vezes o ambiente em que passamos mais tempo é no trabalho, então o mesmo deveria nos fazer bem, em termos de saúde mental. Eu sei que, infelizmente, nem sempre podemos escolher ou nos darmos ao luxo de sairmos de um local de trabalho desgastante. No entanto, nosso corpo e nossa mente possuem e sabem dos seus respectivos limites.
A dica é ficar atento a eles e aos sinais que eles nos emitem.
E fazer o que estiver ao nosso alcance para não adoecermos.
De acordo com Glina et al um local que possibilite o desenvolvimento dos indivíduos, que intercale entre exigências e períodos de repouso e que permita o controle por parte do trabalhador sobre seu processo de produção seria a situação saudável de trabalho. E ideal, diga-se de passagem, né?
Os mesmos autores (Glina et al) trazem conceitos de Dejours sobre organização de trabalho e de como isto pode afetar o funcionamento psíquico e a vida do trabalhador. A organização do trabalho, por vezes difere entre a prescrita, que é a formalizada pela empresa, e a real, que é o modo operatório dos indivíduos. Havendo diferenças gritantes entre as formas citadas pode desencadear o aparecimento de sofrimento mental dos trabalhadores. Até porque, segundo Fernandes et al, nossa mente é o local que compreende e expressa os efeitos que estas formas de organização do trabalho tem sobre nós.
Filho e Araújo tem uma visão que vai de encontro ao que estamos falando até agora. De acordo com eles, o esforço dedicado ao trabalho e a falta ou pouco reconhecimento podem ser catalisadores para problemas de saúde em decorrência de situações estressantes. Diversos outros autores mencionados no artigo tem posições semelhantes.
Segundo a Ana Merzel, o difícil não é encontrar empresas que invistam em programas de atividades físicas e de relaxamentos para os seus funcionários, mas sim encontrar locais que prezem pelas relações com as pessoas, visando transparência e bons relacionamentos afim de evitar desgastes. Inclusive, para Brant e Gomez, há uma tendência de negar o sofrimento no ambiente de trabalho, sendo que este é uma manifestação do nosso corpo que visa informar que o local não nos é favorável. O ideal não seria banir o sofrimento e fingir que o mesmo não existe, mas sim, de acordo com Ana Merzel, educar as empresas de que a maioria das doenças são tratáveis.
"Quem toma um remédio para depressão é como uma pessoa que toma um medicamento diário para hipertensão".
E por falar em sofrimento... Cada um sente de uma forma, não existe como prever como o outro se sentirá frente uma determinada situação. Algumas vezes não conseguimos prever nem a nossa reação, quem dirá a alheia. Por isto, Brant e Gomez comentam a importância de reconhecer que não há uma única manifestação para o sofrimento, visto que o que pode ser para um pode não ser para o outro, apesar de submetidos às mesmas condições.
Antes de sermos profissionais, somos humanos.
Por isto, para Ana Merzel, o reconhecimento por parte do gestor e o conhecimento dos profissionais que estão sob sua supervisão é essencial e pode auxiliar na sua saúde mental. Então, é isso, polvinhos.
Espero que vocês tenham gostado!
Vejo vocês no próximo post.
Listas dos transtornos mentais e do comportamento


Referências
A transformação do sofrimento em adoecimento: do nascimento da clínica à psicodinâmica do trabalho
< https://www.scielosp.org/article/csc/2004.v9n1/213-223/ >
Diálogo com Ana Merzel
< https://www.einstein.br/noticias/noticia/saude-mental-ambiente-trabalho >
Estresse e fatores psicossociais
< http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000400004 >
Estresse Ocupacional e Saúde Mental dos Profissionais do Centro de Especialidades Médicas de Aracajú
< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462015000400177&lng=en&nrm=iso&tlng=pt >
Profissionais de saúde mental: estresse, enfrentamento e qualidade de vida
< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722010000300017&lng=en&nrm=iso&tlng=pt >
Saúde mental e Trabalho: Uma reflexão sobre o nexo com o trabalho e o diagnóstico, com base na prática
< https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0102-311X2001000300015&script=sci_arttext&tlng=es >
Saúde mental e trabalho: significados e limites de modelos teóricos
< http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0104-11692006000500024&script=sci_arttext&tlng=pt >
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