Terapia de Choque
Terapia de Choque
Olá olá polvinhos!
Eu pretendia postar com tranquilidade esse mês, mas ironicamente tudo acumulou nessa última semana de fevereiro, que dixgraça. Fora que a ideia pro post mudou durante o próprio mês. Abaixo seguem imagens reais da minha pessoa essa semana:
Acredito que bastante gente que lê o blog deve gostar de filmes, certo? Então talvez já tenham escutado algo sobre "eletrochoque" e é esse o tema desse mês. Eu e o Pedro resolvemos trocar para esse tema devido às polêmicas atuais sobre a possível entrada dessa prática no SUS.
Mas quem é Pedro Scomparin?? Bem lembrado, polvinhos. Ele é estudante de psicologia também e é um adorador de filmes e gatinhos que nem a minha pessoa. Voltando ao assunto, eu falei em cinema ali em cima, né? Pois é, isso se deve ao fato de que diversos filmes tenham abordado o assunto. "Um estranho no ninho", drama de 1975 protagonizado pelo ator Jack Nicholson, é um ótimo exemplo disso e nos traz uma visão mais hollywoodiana do tema.
O eletrochoque, como era conhecido antes da Reforma Psiquiátrica, ou seja antes de 1970, era realizado de formas impróprias e com pouco conhecimento. Aí vocês vão nos dizer "mas é a mesma coisa, continua sendo choque nos pacientes". Então, gente, na verdade o princípio é o mesmo sim. Porém, e foco nesse porém. Porém, ela é realizada de maneira diferente, isto é: humanizada.
A ideia do post é a gente contar pra vocês um pouquinho de como surgiu essa ideia de dar choque no amiguinho, de como a ideia amadureceu e evoluiu (como todos nós deveríamos, inclusive) e deixar vocês tirarem as próprias conclusões sobre o método.
Fica um incentivo pra continuarem o post.
Sabe pra quem é indicada a Eletroconvulsoterapia? Para gestantes. Devido às contra indicações e possíveis efeitos colaterais de alguns medicamentos, os quais podem provocar, inclusive, má formação fetal.
Ah, sim, ela mudou de nome e se reinventou. Agora não é mais conhecida como Eletrochoque, que ultrapassado. Atualmente é conhecida como Eletroconvulsoterapia e tem vários estudos de olho nela já.
Senta que lá vem história
Dos muitos métodos utilizados para tratamentos na psiquiatria contemporânea, com certeza um dos mais polêmicos é a eletroconvulsoterapia, ou “ELETROCHOQUE” (sim, em letras garrafais pois costuma ser falado com perplexidade pelas pessoas).
Como muitos tratamentos da medicina, A ECT foi descoberta de forma um tanto quanto fortuita, quando responsáveis por sanatórios notaram que pacientes psicóticos ou que sofriam de epilepsia pareciam ter uma leve melhora após a ocorrência de uma convulsão. Foi então que o psiquiatra húngaro Ladislas Meduna passou a experimentar diferentes jeitos de induzir convulsões, culminando com a descoberta no ano de 1934 que, após administrar altas doses da droga Metrazol, a ocorrência de uma convulsão fazia, de fato, com que os sintomas dos pacientes diminuíssem.
Praticamente no mesmo período, o neurologista italiano Ugo Cerletti realizava experimentos de indução de convulsões em cachorros administrando descargas elétricas diretamente em seus cérebros. Ao notar o estado semelhante a um coma anestésico que os animais ficavam ao receber a descarga, o médico questionou se o mesmo efeito seria possível com humanos.
O primeiro paciente humano tratado pela ECT de Cerletti foi um homem diagnosticado com esquizofrenia que sofria com alucinações e confusão. O tratamento ocorreu exatamente como planejado e a condição do paciente sofreu uma melhora significativa. A partir dos anos 1940, então, o “eletrochoque” já havia sido adotada nos maiores centros psiquiátricos dos Estados Unidos.
Chegamos então a 1960, década em que o psiquiatra Thomas Szasz tomou a iniciativa do que viria a ser conhecido como “movimento antipsiquiatria”, que criticava a prática psiquiátrica em várias frentes, incluindo o uso da ECT que era vista como algo semelhante a tortura e desumana.
Até a chegada dos anos 1980, a eletroconvulsoterapia permaneceu em um tipo de “limbo” dos tratamentos, tendo seu ressurgimento durante tal período culminando com uma ampla aceitação no que diz respeito a forma de tratamento de transtornos mentais de caráter sério. A descoberta da ECT possibilitou a primeira grande esperança para pacientes que outrora eram considerados como “intratáveis”.
Agora retornamos pra 2019, certo? Passamos essa fase mais dark, mais adolescência, e vamos chamá-la de ECT (eletroconvulsoterapia) a partir desse momento. Até porque facilita a escrita, convenhamos.
De acordo com a IPAN (Instituto de Psiquiatria Avançada e Neuromodulação), a ECT é um tratamento eficaz e seguro. É, também, regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina e pela ANVISA. Apesar disso, pesquisas americanas mostram que ainda é pouco utilizado em decorrência dos seus custos e do estigma que carrega consigo.
Infelizmente, ou felizmente, não é só com uma aplicação deste método que as pessoas saem magicamente curadas. É preciso, em média, de 6 à 12 sessões, as quais são avaliadas pelo psiquiatra responsável. Essas sessões devem ocorrer semanalmente para que haja melhora no quadro.
Tá e afinal, como é feito essa tal de ECT?
Como muitas pessoas tem essa dúvida e o pré conceito sobre o tema, foi criada uma diretriz para explicar para nós leigos como é realizada a ECT, quais suas indicações e para auxiliar os médicos com embasamento científico acerca do método.
O tratamento conta com uma anestesia geral rápida, que dura de 5 a 10 minutos, além de medicamentos para que o paciente não sinta dor ou desconforto durante a realização. Além disso, o paciente não fica internado, ele recebe alta hospitalar no mesmo dia. Após isso, de acordo com Thomaz e Miguel, será aplicada uma corrente elétrica de baixa intensidade, nas têmporas, que vai induzir uma pequena convulsão por cerca de um minuto. Em outras palavras, sabe aquele lugar que você sempre massageia quando está com dor de cabeça? Ali vão colocar os eletrodos. Mas também serão colocados em outros locais durante a sessão de ECT.
Esses moços simpáticos (Thomaz e Miguel), afirmam que "o efeito terapêutico vem da convulsão e não do choque", pois ela interfere na liberação dos neurotransmissores cerebrais. De acordo com a IPAN, A ECT consegue equilibrar alguns neurotransmissores tais como a serotonina, a dopamina, a noradrenalina e o glutamato, que são responsáveis por manter o bem estar do indivíduo e enviar impulsos nervosos pro cérebro. Durante todo o processo o paciente é monitorado por EEG, que é o Eletroencefalograma e que fica observando suas reações cerebrais.
Sobre as indicações, além das gestantes constam na listinha abaixo:
Indivíduos com depressão severa;
Ideação suicida ou quando apresentar riscos para o próprio paciente;
Gestantes;
Pessoas que não obtiveram resultados com medicações, geralmente após 2 ou mais tentativas com diferentes medicamentos;
A World Psychiatric Association (WPA) e recomenda para alguns casos de esquizofrenia, nos quais a pessoa tenha apresente sintomas catatônicos ou depressivos (até mesmo depressão concomitante);
National Institute for Clinical Excellence (NICE) sugere para certos tipos de esquizofrenia, pois reduz a ocorrência de recaídas;
Pessoas que tenham epilepsia;
Mania;
Doença de Parkinson e
Síndrome Neuroléptica Maligna.
É isso, polvinhos. Esperamos que esse post ajude vocês a verem com outros olhos a menina ECT, pois ela evoluiu. Sabemos que ainda existem muitas pesquisas ainda a serem feitas e reunimos aqui alguns dados para que vocês consigam formar suas próprias conclusões com base em fatos e não em preconceitos.
Espero que vocês tenham gostado!
Vejo vocês no próximo post.
Referências
PSYCHOLOGY TODAY <https://www.psychologytoday.com/intl/blog/freud-fluoxetine/201811/brief-history-electroconvulsive-therapy>
Um estranho no ninho <https://www.imdb.com/title/tt0073486/>
Jama Psychiatry <https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/article-abstract/2680312>
IPAN <https://www.ipan.med.br/eletroconvulsoterapia/>
Diretrizes ECT <https://www.ipan.med.br/diretrizes_ECT.pdf>
Quem tem medo de Eletrochoque? <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901995000500003&lang=pt >
<http://www.cerebromente.org.br/n04/historia/meduna_i.htm (“Ladislas Meduna”)
https://journals.lww.com/ectjournal/Citation/1990/12000/The_Use_of_Metrazol_in_the_Treatment_of_Patients.5.aspx>
<https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(12)61789-9/fulltext>
<http://www.cerebromente.org.br/n04/historia/meduna_i.htm>
<https://journals.lww.com/ectjournal/Citation/1990/12000/The_Use_of_Metrazol_in_the_Treatment_of_Patients.5.aspx>